quarta-feira, 21 de março de 2012
Atividade revisional comentada
TEXTO I
" Ode Triunfal", de Álvaro de Campos.
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos.
De vos ouvir demasiadamente de perto.
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressões de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas.
( ... )
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
- Escritor expressivo do Modernismo Português, Fernando Pessoa, que retoma formas tradicionais da poética portuguesa em tons nacionalistas e épicos. Ele apresenta vários heterônimos para criar situações poéticas onde se manifestam vários outros. No fragmento acima temos uma das principais criações de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, poeta incialmente decadente, futurista e depois teve uma fase mais pessoal e melancólica. Considerando o movimento Modernista, aponte através do texto de Pessoa=Campos, como o artista, no inicio do século XX, entendia a crescente modernidade industrial.
Os fragmentos vertiginosos do Álvaro de Campos, possuis versos livres e linguagem coloquial que ressaltam uma das principais características e contradições do homem moderno: de um lado, a hesitação dos sentidos, provocada pela velocidade, delírio, pelo ritmo febril da sociedade industrial; de outro a insatisfação, a sensação de que a vida é pouco, perante tantas possibilidades e sonhos.
Texto II
ANEDOTA BÚLGARA
Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se caçam borboletas e
andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
(Carlos Drummond de Andrade. Reunião.)
- Este poema é um bom exemplo da literatura de vanguarda que se fazia por volta de 1930, quando foi publicado. Ele era, então, "experimental na forma e no tema". Falta-lhe, no entanto, uma das características fundamentais do Modernismo. Ela é:
00(X ) a valorização temática da realidade brasileira.
11( ) a utilização do verso branco e livre.
22( ) a rejeição do estilo sublime ou elevado.
33( ) a experimentação da piada como forma de poesia.
44( ) a exploração da espontaneidade da língua oral coloquial.
TEXTO III
TEXTO IV
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Oswald de AndradE
- (PAS-UnB- Adaptada) Escritor expressivo do Modernismo brasileiro, Oswald de Andrade, retoma temas tradicionais da história do Brasil em tons nacionalistas e satíricos. Ele apresenta, com o movimento antropofágico, uma descoberta da arte brasileira e uma volta as nossas raízes primitivas. Considerando o quinhentismo brasileiro e os seus conhecimentos sobre o movimento Modernista, julgue as afirmações abaixo e crie um parágrafo justificando por que os Texto I e II possuem um caráter INTERTEXTUAL.
0( V) A expressão "que pena" retrata o falar cotidiano brasileiro.
1( F )No título do poema, a expressão "de português" admite dupla interpretação, que se mantém nos versos. (Unb- 2011)
2(V )No poema, o par opositivo vestir/despir representa metaforicamente a distância cultural entre o colonizador português e o indígena, chamado de gentio. (Unb-2011)
3( V) Os dois textos argumentam a favor da parcialidade da História. Na verdade, os indivíduos, os grupos sociais vêem os fatos desde suas próprias perspectivas culturais. (UFPE)
4(V) Desejo de expressão livre e a tendência para transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do Parnasianismo são características típicas do Modernismo da primeira fase.
5( V ) O poema está dividido em dois blocos. No primeiro, consta uma relação de valor temporal e, no segundo, uma relação de valor condicional. No segundo caso, o conectivo vem explícito.
Intertextualidade acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade. Pode ser uma:
Paráfrase
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a idéia do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado.
Paródia
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes.
- Em 1917, o escritor Monteiro Lobato, considerado pré-modernista em virtude das inovações temáticas e lingüísticas de sua literatura, assim comenta as inovações da pintora brasileira Anita Malfatti:
"Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em conseqüência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. [...] A outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras , sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produto do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro [...]
..........................................................................................................................................................
Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia. [...]
(Fragmento do artigo crítico "Paranóia ou mistificação"- Em: O Estado de São Paulo 20/12/1917)
(UNB- Adaptada)Julgue os itens abaixo, considerando os Antecedentes Culturais do Modernismo e os reflexos da Vanguarda Européia no Brasil, capazes de influenciar Lobato a assim expressar-se em seu artigo: (0,5)
0( V ) A contradição moderno-antimodernista leva Monteiro Lobato a uma crítica injusta e violenta à pintura de Anita Malfatti, fato cultural mais importante antes da Semana de Arte Moderna.
1( V )As contradições do cenário artístico da época comprovam que o processo de modernização de nossa cultura se dava de modo gradual e só se intensifica graças ao choque e à quebra de valores que os artistas e intelectuais modernistas empreenderam.
2( F )Os modernistas pretendiam atualizar nossa produção literária, fazendo com que se reproduzisse a estética e a temática européias, caracterizadoras da arte mundial desde o início do século.
3( V )As reações do público à Semana de Arte Moderna são indícios de que a arte e a literatura propostas pelos modernistas traziam uma renovação que o gosto dominante, acomodado ao academicismo da ficção consumida, não era capaz de aceitar.
4( F )O Modernismo é engendrado pelas elites intelectuais e econômicas da época, razão que o impedirá de abordar temas mais próximos do cotidiano.
- Aproveitando o texto de Monteiro Lobato, descreva o que seria essa "arte pura"e "a arte dos que vêem anormalmente a natureza", ou seja, os elementos que distinguem a arte clássica da arte moderna. (0,5)
"Arte pura": arte acadêmica tendo como princípios os valores clássicos e sua regras na elaboração do objeto artístico.
"a arte dos que vêem anormalmente a natureza": é a arte dos vanguardistas europeus e posteriormente modernistas, que não aceitavam o engessamento da arte e defendiam uma liberdade de expressão sem as amarras acadêmicas.
TEXTO V
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no
[morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite chegou no Bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
[afogado.
(Manuel Bandeira)
- À luz da estética modernista, relacione os aspectos formais e temáticos do poema de Manuel Bandeira. (0,5)
Aspectos formais ou estéticos: versos livres, poema hibrido pois junta dois gêneros literários narrativo e lírico, poesia-prosa, possui um sujeito simples, a ausência de pontuação também sugere à leitura a perda de ar justamente no momento em que é dito: morreu afogado .
Aspectos temáticos ou ideológicos: relata o suicídio de um homem humilde. O nome da personagem é bastante comum, indicando tratar-se de um homem qualquer do povo, um 'joão-niguém'. Seu sobrenome tem uma conotação sexual, o que aponta para o universo da malandragem carioca. Seu trabalho diz respeito à utilização da força física. Além disso, como é um subemprego, ajuda a reforçar a idéia de que se trata de um qualquer. O local de moradia é uma favela e seu barracão não tem nem mesmo número, o que mostra alguém totalmente à margem da assistência do poder público que polue a sociedade elitizada com a sua morte.
- Descreva como a Vanguarda Européia, de modo geral, influenciou a arte modernista brasileira e relacione que tendências especificamente estiveram relacionadas à produção literária de 22: (0,5)
Em termos artísticos, as vanguardas europeias são os movimentos eu procuram expressar as contradições desencadeadas por tantas mudanças, tantos ganhos e simultaneamente tantas derrotas vividas na Era da máquina. Se por um lado, cultua-se a velocidade, o progresso, a vertiginosa aceleração técnico-científica, por outro lado, assimila-se dolorosamente a ausência de valores humanos, como os proporcionados pela religião e pela própria ciência, que são questionadas em sua capacidade de gerar felicidade e as justiças sociais.
Textos para as questões 6 e 7:
TEXTO II
Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
(...)
Manuel Bandeira
TEXTO III
Profissão de fé
Invejo os ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, e, ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. e, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
(...)
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase: e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
(...)
Olavo Bilac
- Tendo como referência o texto acima e os estudos sobre o Modernismo e o Parnasianismo, analise os proposições que seguem.
- O Texto II se transformou numa espécie de hino modernista, desde que foi declamado, no Teatro Municipal de São Paulo, durante a Semana de Arte Moderna.
- No Texto II o diálogo entre o sapo-boi e o sapo-tanoeiro nos remete ao tradicionalismo literário, representado principalmente pelo parnasianismo.
- O Texto III é metalingüístico, pois explica o processo de construção da poesia dentro da própria poesia.
Estão corretas apenas as afirmativas:
- I e II, apenas.
- II e III, apenas.
- I e III, apenas.
- I, II e III. VERDADEIROS
- Nenhuma delas está correta.
- Considerando os Textos II e III e as escolas literárias a que pertencem, julgue os itens a seguir.
0(V )O Texto II representa várias características do modernismo como a irreverência e o humor cínico.
1( F ) O poema de Manuel Bandeira contém crítica somente à poética parnasiana.
2( V ) O poema de Bandeira é uma alegoria, figura de estilo que utiliza animais para representar criticamente comportamentos humanos.
3( F ) O Texto II representa o próprio ato de escrever e simboliza a escola parnasiana.
4( F) A expressão "arte pela arte" é uma das principais características do Modernismo.
ODE AO BURGUÊS
I
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
II
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos
E gemem sangues de alguns mil-réis fracos
Para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
E tocam os 'Printemps' com as unhas!
III
Eu insulto o burguês funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal! (...)
IV
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal! (...)
- Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
- Um colar... – Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!
V
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
Cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
VI
Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
Considere as afirmativas feitas acerca do texto de Mário de Andrade.
1. – A linguagem é agressiva e demolidora para sugerir qual é o conceito do eu lírico sobre todos capitalistas, representados nos versos pelos paulistas.
2. – O poema contém traços do movimento de vanguarda denominado Dadaísmo, pois o eu poético desconsidera as qualidades positivas do elemento retratado.
3. – A linguagem erudita empregada por Mário de Andrade é justificada, pois o descaso que a classe dominante tem pelos pobres é revoltante.
4. – Emprego de neologismos, verso livre e sem rima, uso de expressões destituídas de lirismo tradicional são estratégias poéticas típicas dos artistas do Modernismo.
5. – O vocábulo 'ode', no título, é uma maneira irônica de o artista compor um poema em homenagem a um ser desprezível e mesquinho, o burguês.
Estão CORRETAS apenas as afirmativas
a) 2, 3 e 5.
b) 2, e 4.
c) 1 e 5.
d) 1, 2, 4 e 5.
e) 1, 3 e 4.
RESPOSTA: D